Fazia mais sol do que se poderia esperar de um dia como aqueles. Mas por quê raios ela estaria ali?Sozinha?Olhava para os tênis all star surrados e ria sozinha.Fazia caretas estranhas como quem ri de uma piada interna.Sorria para as pessoas que passavam.Falava com todas,e não recebia em resposta nada mais do que um olhar de censura assustada das mulheres e um sorriso sacana dos homens.
Apoiava-se com as duas mãos no banco encardido, e deixava o vento bater nos cabelos. Todos voavam, e ela sentia cócegas solidarias do ar. Um rapaz sentou ao seu lado. Começaram a conversar. Minutos depois ele tentou beijá-la. Ela desviou e riu. Ele foi embora encabulado. Ela mandou língua para suas costas. Alguns outros rapazes olhavam-na com esperança, e ela debochava daqueles rostinhos maliciosos do predador que se vê menos esperto do que a presa.
Ele vinha andando atrapalhado, contando algumas moedas. Ela viu. Riu. O ato foi tão simultâneo e rápido que não consigo descrever sem fazer com que pareça tolice. Talvez até tenha sido. Ela meteu o pé quando ele passava distraído por ela. Ele caiu. As moedas voaram e caíram descontroladas na grama. Ela sorriu. Ele não.
__compre-me um sorvete!__ela pediu atrevida.
__você me derrubou!
Ela olhou-o com inocência assustada. Seria atriz. Teria todos a seus pés. Já tinha. Ele literalmente estava. Metaforicamente também. Tentar manter a raiva naquela situação seria plausível, mas ele não conseguiu. Ele fazia um silencio surrado enquanto catava as moedas que ainda conseguia achar. Ela perguntou se ele tinha nome ou precisaria dar um grito toda vez que quisesse falar com ele. Ele olhou-a com censura total e disse o nome. ”mas que nome idiota!” foi o que ela respondeu, rindo. O vento açoitava-lhe os cabelos e ela lutava para mantê-los quietos.
Ele levantou e ia embora quando ela gritou pelo sorvete. Ele olhou-a. Riu com a cara de pau que aquela menina conseguia ter.
Ela corria na frente, assustando os pássaros e comentando sobre como seria legal poder voar. Ele concordava cansado. ”fale-me algo sobre você”, ele tentou puxar assunto com a garota que havia se recusado a dar-lhe ate o nome.
“algo sobre mim? eu gosto de você!”.
“Uau. esclarecedor.”
“mais do que você imaginaria.”
Passaram a tarde conversando. Ela tornou-o compositor quando o obrigou a fazer uma musica em sua homenagem. Riu de suas rimas, e disse que ate um bêbado escreveria melhor. Foram para um bar e ela deixou-o porre.
As rimas melhoraram. Ficaram mais pervertidas, e engraçadas.
Tocaram campainhas e correram. Ele, bêbado, caiu...
Acordou dez da manha totalmente ressacado. Nunca havia bebido. Não deveria ter feito aquilo. Estava em casa. Perguntou ao porteiro como havia ido parar ali. ”uma bela moça veio lhe deixar.” ele correu para a praça onde a havia encontrado no dia anterior. Todos os bancos estavam vazios, com exceção um ocupado por um casal de idosos que jogava milho para os pássaros. Ele perguntou por ela. Descreveu com exatidão, mas só foi entendido ao falar da “moça que grita com os pássaros”. Eles a viram-na. Contaram que ela estava com outro rapaz e uma criança, que havia gritado com alguns pássaros e que fora embora num carro importado.
Ele sentou no mesmo banco que havia encontrado a paixão mais rápida que havia conhecido. Olhou para os próprios pés e viu. Um pedacinho de papel todo enrolado na lateral descolada do sapato. Um bilhete.
“sei que não mereço alguém tão legal assim como você. Desculpe ter ido embora sem avisar. Era meu ultimo dia na cidade, então queria aproveitar o dia da forma que nunca o fiz, e você me proporcionou o melhor dia da minha vida. Não vou dar referencias minhas porque não quero você me procure. Quero evitar um sofrimento.A dor não é boa pra ninguém. Só quero que saiba que alguém tão legal como você não merece alguém como eu. Você deve estar muito bravo comigo. Eu mereço. Mas peço que não fique. Em um único dia você conseguiu se tornar a pessoa mais importante que já passou por mim. Prometa que nunca vai me esquecer, e eu prometo que um dia vou voltar.Prometo. Tenho que vê-lo ao menos uma vez mais para ter certeza de que o melhor dia que tive não foi fruto de minha mente doentia. Desculpe.
PS. você fica engraçado quando bebe. Devia fazer isso mais vezes.”
Ele passou o resto da manhã sentado ali. E assim fez por muito tempo. A chuva embaçava seus óculos, e ele continuava ali. Decidiu que esperaria por toda a vida se houvesse necessidade.
Afinal, a historia só terá final feliz se você quiser fazê-la feliz. Então ele esperaria. Se ela voltaria ou não... As nuvens talvez a trouxessem junto com a chuva. O melhor dia da sua vida pode ser o da perda. Mas se, antes da perda, coisas boas aconteceram, então não terá sido em vão.