SEU ZÉ CARLOS
E a querida Ruth? Ela era a melhor
pessoa do mundo. Tão doce, tão gentil, tão prestativa. E tão bonita. Meu deus, como era bela. Sempre deixando
o longo cabelo castanho e ondulado brincar de fazer cócegas no vento. Ruth
seria fácil, fácil o amor da vida de qualquer um. Não havia ser mais apaixonável.
E como era inteligente! Que falta
que ela faz. Por onde anda? Com quem estará? Quando foi que perdemos contato de
vez? Eu simplesmente não lembro. Parece fazer tanto tempo. Quase uma vida
inteira. Talvez seja. Não sei.
Eu a conheci numa viagem que fiz ao
Nordeste do país. Vivera por alguns anos na Europa, e viera ao Brasil para
visitar a família. Falava dos motivos da grande depressão, dos prejuízos da
guerra. Ruth dedicara um grande tempo tentando me ensinar a amar a vida. Mas eu
nunca levei aquilo tudo realmente a sério. Até que ela se foi. Cansara.
Hoje, penso que um dos maiores erros
que cometi foi achar que ela me pertencia. Ela nunca pertenceu a ninguém. Deve
estar tão feliz hoje. Ruth sempre foi aquele tipo de pessoa que fez por merecer
a felicidade. Deve estar casada. Espero que sim. Com alguém que ame a vida
tanto quanto ela. Querida Ruth. Como eu queria lhe ter por perto agora. Mesmo
como amiga. Só para poder pedir desculpa por tudo que eu disse. Por todas as
coisas horríveis que eu fiz. Para poder dizer que sinto saudade.
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