segunda-feira

1968 - 3


SEU ZÉ CARLOS

Clarisse foi uma menina fascinante. Diferente de qualquer outra pessoa do mundo. Eu nunca descobri se aquele ar triste que ela tinha era real ou só uma forma particular de enxergar as coisas. Nunca chegamos a conversar muito. Em geral, eu ficava feliz só de tê-la ao meu lado de vez em quando. Ela falava de coisas realmente tristes. De como às vezes somos obrigados a ter uma vida que não queremos. Ah, Clarisse. Eu não queria que o fim estivesse assim tão próximo. Ainda não me sinto pronto. Sinto que ainda tenho muitas coisas para fazer. Sinto que ainda não descobri tudo que precisava.

Não tenho meus amigos aqui comigo, e não consigo lembrar o porquê. Não tenho família, nem ninguém, e não consigo lembrar quando foi a última vez que conversei com uma pessoa. Tenho a impressão de que você ficaria muito decepcionada se me visse agora. Não consegui evitar todas aquelas coisas de que você sempre gostou tanto de falar.

Espero que você esteja bem.

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