De uns tempos
para cá, as coisas definitivamente estão saindo dos trilhos. O tal do espírito
do Natal, se é que um dia ele realmente esteve entre nós, ou se perdeu nas
montanhas de presentes caros e inúteis, ou se mudou de vez para algum lugar
muito, muito distante. A ideia que o velho Noel tinha de um natal feliz ficou
completamente obsoleta. Aqui em casa, tudo foi feito antes da hora, sem muito
exibicionismo, como sempre. Os presentes foram dados todos mais cedo também.
Tudo ou de plástico, ou eletrônico. Ou da China, ou de Algum Outro País
Asiático. Uns bonecos assassinos e monstros de lava para as crianças, e o meu
avô contando a velha história de “No meu tempo, a gente não era entupido de
presente. Quando ganhava alguma coisa, era um carrinho de madeira...” para quem
ainda não tivesse ouvido direito.
E quem vai
dizer que isso tudo está errado? É a ilustre Globalização, que permite que
tenhamos produtos de marcas norte-americanas fabricados em algum país distante
com baixos impostos e operários mal remunerados. E eu não diria também que o
grande problema esteja na grande desigualdade das coisas. Uns jogando a comida
fora, outros remexendo as latas de lixo à procura de algo para comer. Ou nas
crianças com o vídeo games de última geração se contrapondo àquelas que devem
ficar à espera de um ‘papai Noel solidário’ que lhe traga uma bola de futebol
ou uma boneca. Afinal, essa é toda a lógica do capital, uns explorando e outros
sendo explorados – por mais que sejamos extremamente insensíveis a isso. A
grande tristeza está na forma como encaramos tudo isso. Até a ideia do Natal foi privatizada.
Nem sei dizer
como poderia ser diferente. Não podemos ser inocentes a ponto de achar que as
pessoas vão enfim aprender a se respeitar e a se tratar como iguais, porque
obviamente isso não deve acontecer. Seria de se esperar que a solidariedade
estivesse presente no dia do ano que a celebramos, mas ela não está.
Compramos uma
árvore, neve de mentira, enfeites que brilham em diversas cores, presentes, um
peru e o que mais houver de comestível ou inflamável. Quase ninguém se lembra
de agradecer por estarmos todos bem alimentados e aquecidos enquanto tem gente
com fome e frio, que nem entende para quê serve esse tal Natal. A data, por mais incrível ou surpreendente que
possa parecer, não é celebrada só pelos presentes, ou pela comida, ou mesmo
pelo show de luzes e fogos de artifício. Eu tenho certeza que todos sabemos,
mesmo que bem lá no fundo, que a magia do Natal ainda existe; a solidariedade e
o respeito ao próximo ainda estão por aí. Em algum lugar. Esperando que as
encontremos e as usemos para o bem geral, enfim.
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