Trechos de história Para três meses

“Gostaria de poder começar toda e qualquer história que eu fizesse com tiroteios entre cowboys, e donzelas sendo salvas das mãos infames dos maiores tiranos que já existiram. Não consigo. Simplesmente não consigo. Aprendi que só sei fazer historinhas sobre pessoas simples, com defeitos e que descobrem que as coisas mais incríveis do mundo já existem há séculos e que estão ali o tempo todo. Só que ninguém repara. E, pra não perder o hábito, vou escrever um romance, daqueles que estão presentes em tudo o que escrevo. Bom.”

“Eu procurei em outros corpos encontrar você

Eu procurei um bom motivo pra não falar

Procurei me manter afastado

Mas você me conhece eu faço tudo errado, tudo errado [...]”

Era o que ele tentava repetir nas entrelinhas. Que havia tentado. Que fizera o possível para não perder as nesgas da amizade que ainda restava. Mas o simples toque de suas mãos, a simples presença dela fazia-o esquecer das promessas que fizera para si mesmo. Não havia como deixar tudo de lado assim. Era aquele tipo de coisa que não tem explicação. É o tipo de coisa que a gente simplesmente sabe. E pronto. Não precisa de explicação. A gente simplesmente sabe. Sem mais nem porque, as palpitações nervosas aumentavam e ele ficava corado quando ela o pegava encarando-a. E sorria. Sorriu também quando ela se sobressaltou no dia em que teve seus cabelos tocados por ele. Riu. Ah, fazer o quê? Ele não sabia abraçar, não sabia tocar e talvez não soubesse nem amar. Mas tinha capacidade para isso. O que servia para não torná-lo um completo estranho no mundo dos apaixonados.

Sabe quando as coisas simplesmente resolvem dar errado? Sabe quando você fica desesperado vendo algo (ou alguém) escapulir entre seus dedos e você sente que não pode fazer nada para impedir? É pior ainda quando você esta tentando fazer exatamente o contrário. Que importava que não tivessem sido feitos um pro outro? Que importava que brigassem? Nada. Sabe o que importava? Ele estava absolutamente infeliz por tentar fazer as coisas darem certo e perceber que só conseguia afastá-la e diminuir o que ainda existia entre ele e ela. Isso sim era extremamente triste. Aproximavam-se e continuavam a quilômetros de distância. Olhavam-se, mas a verdade é que nem se viam.

Com o tempo, passaram a se falar menos. A se ver menos. Mas ele não passou a amá-la menos. O que era extremamente estranho, considerando que ele tentava isso quase sempre, depois que percebera que seria frustrado em todas as tentativas de aproximá-los.

“Mas nada vai

Conseguir mudar o que ficou

Quando penso em alguém

Só penso em você

E aí então estamos bem [...]”

Então ele percebeu que não adiantava tentar impor uma distância respeitável entre os dois. Ela simplesmente desobedecia e pulava para abraçá-lo de vez em quando. Ela arranjou um namorado. Ele arranjou uma desculpa para tentar esquecê-la de vez (somos amigos, e agora ela está comprometida também.). E é aqui que as coisas abandonam os planos reais de coerência, porque ele parou de tentar se aproximar, e pararam de brigar. E as coisas pararam de dar errado. Se isso fosse uma novela, você diria que ele é um babaca, e que ela não deveria ficar com ele. Mas diria também que, considerando o namorado no momento, aqui deveria aparecer um príncipe encantado e livrá-la das mãos do namorado ‘tirano’ e do amigo bobão (sem aspas, porque acho que isso é sentido literal.). Pois é. Não é novela. Não tem príncipe. Só o amigo bobão.

Até que já não fazia mais sentido fazer de conta que as coisas se fariam por si só, e ele resolveu que tempos de experiência viriam. E aprendeu que qualquer situação que envolvesse os dois tinha um sério risco de machucá-lo no final. E descobriu que nem importava. Por mais que saísse todo machucado (a maioria das vezes era assim), sempre valia à pena, de certa forma.

“Me disseram que você

 Estava chorando                 

 E foi então que eu percebi

 Como lhe quero tanto”

__Olha, eu não sei se deveria te dizer isso, não. Mas acho que é importante, e se vocês forem ficar juntos, talvez seja uma ajuda. Ela tava comentando uma vez... Ela já gostou de ti... Mas não fala que eu te disse isso, porque eu não sei se ela gostaria que eu te falasse.__talvez pouquíssimas pessoas saibam, mas o nosso protagonista (o amigo bobão que já foi citado) é movido a frases. Poucas palavras para alegrá-lo pelo resto do dia ou entristecê-lo pelo resto da vida. E ele sorriu. Riu. É engraçado como as coisas se desenrolam. Se pudesse saber de tudo isso antes, seria muito mais fácil. Mas não teria graça. E não teria historia. É, foi melhor assim.

E depois dessa frase ele foi sondou os amigos dela, deu tudo certo, depois ele foi falar com ela e foram felizes para sempre? Ahh... Não. Por um estranho motivo, mais uma vez as coisas davam errado, e mais uma vez ele se machucava. Ficou triste, e ficou decepcionado com o mundo e com a vida. Não que eles se importem, é claro.

[...] Naquele dia ele chegou a casa e chorou. Sempre teve vergonha do que fazia, mas ali, sozinho, não teve vergonha de ver o seu próprio reflexo no espelho, vermelho de raiva e frustração. E tristeza. E ele simplesmente não conseguia fingir que as coisas estavam bem quando não estavam. Não aprendera a agir assim. Não aprendera a pensar assim. E sentou na cama atravessada no meio do quarto, e surtiu das próprias lágrimas.

“Quando tudo está perdido

Sempre existe um caminho

Quando tudo está perdido

Sempre existe uma luz...

Mas não me diga isso...

[...] Queria ser como os outros

E rir das desgraças da vida

Ou fingir estar sempre bem

Ver a leveza

Das coisas com humor...

Mas não me diga isso...”

E então ficou claro que os dois não poderiam ficar juntos, simplesmente porque algum muro invisível e extremamente rígido impedia que isso acontecesse. E o destino riu debochado e resolveu que já era hora das coisas andarem no rumo certo, e serem como deveriam ser. Porque é claro que as coisas vão terminar do jeito certo. Sempre. O problema é se vamos conseguir arrumar tudinho como gostaríamos que fosse. E então os dois colaram as cabeças para ver o mesmo horizonte, e sorriram muito próximos. Para ela eram alguns centímetros que distanciavam a antiga e boa amizade de um resultado incerto. Para ele... Bom, o cérebro sempre trava em momentos de alta pressão, então ele só lembrava-se de respirar, e só tinha a consciência distante de que algo muito incrível aconteceria. Porque depois de rosas e textos e momentos constrangedores (o abraço mais afagável que você já me deu foi o primeiro, quando ainda nem estávamos juntos, mas sabíamos que algo importante iria acontecer. Foi fascinante, porque foi a primeira vez que nossos corpos se colaram num sentimento que já nem era mais aquele da amizade. Eu gostei.) aquele momento já estava acima de sua imaginação (quatro é par, é claro). E é ate engraçado o desenho que as linhas formam depois que tudo acontece, e depois que a chuva passa, e depois que já terminamos de chorar e de reclamar das coisas da vida.

“Porque já se conheciam há tanto tempo. Já brigavam há tanto tempo. Já se reconciliavam e fingiam que nada havia acontecido há tanto tempo. E os dois não sabiam, mas era um ato conjunto e simultâneo chegarem em suas casas e conversarem com suas próprias decepções. E se perguntavam qual mais viria. E colavam a cabeça para pensar. Na verdade, era só pra colar a cabeça, e tudo era uma desculpa muito ruim. Só queria tê-la por perto, sempre. E talvez fosse isso mesmo. Só queria estar perto dela. O tempo todo. Só porque gostava de vê-la sorrindo. Rindo. Só por isso. ”

“E conversaram até tarde sobre coisas que encontraram debaixo da casa, e sobre coisas que eles sabiam que não deveriam saber. E conversaram sobre mundos, sobre luas, e sobre estrelas e tudo mais, e conversaram sobre voar entre as nuvens que aparecem de noite e que impedem a lua de se exibir. Ela imaginava coisas que poderiam ver juntos. Ele imaginava coisas que poderiam fazer, juntos. E sorria para si, e quando ela perguntava o que havia acontecido, ele fungava feliz e dizia na maior cara de pau: ’nada. O céu está realmente bonito’. E sorria, achando que havia conseguido enganá-la. Ela também sorria, porque sabia que ele pensava isso. E conversavam a noite toda, e moravam juntos em palavras, porque saíam juntos, comiam juntos e dormiam juntos. O que quer que fosse eles faziam juntos. Amavam juntos, mas isso já era tão antigo que nem era tão notado assim.”

“E porque combinavam ou davam certo? Porque os ‘segredos de liquidificador’ que ele contava pra ela eram mais do que meras promessas ou suposições. Eram verdades. Simples verdades. O ‘eu te amo’ que ele dizia era tão sincero quanto ele podia demonstrar. O ‘é sério’ que vinha em seguida também.

“Será que você vai saber, o quanto

Penso em você com meu coração?

Será que você vai saber, o quanto

Penso em você com o meu coração?

A gente quer um lugar pra gente

A gente quer é de papel passado

Com festa, bolo e brigadeiro

A gente quer um canto sossegado

A gente quer um canto de sossego

Estou pensando em casamento

Ainda não posso me casar

Eu sou rapaz direito

E fui escolhido pela menina mais bonita.”

Frases para lembrar:

“Sem dúvida a mais linda e fascinante. E é claro que não vou mais conhecer alguém como você.”

“E não estou tentando fazer parecer que a culpa não é minha (claro que estou. Na verdade, é o que vivo tentando fazer). É claro que não (estou sim).”

“Estar longe de você me sufoca. Não te abraçar me sufoca. Acho que definitivamente preciso rever meus conceitos quanto a sobreviver longe de você.”

“todos os garotos são uns babacas. Uns verdadeiros imbecis, estúpidos e sem tato. Só não são quadrúpedes. Não todos. Mas definitivamente são todos uns babacas.”

“É claro que eles passaram por dificuldades maiores agora. É claro que brigaram mais do que nunca. È claro que se questionaram se a amor ainda existia e por diversas vezes pensaram em ir embora e largar tudo. O que define se foram felizes ou não é sua concepção de felicidade ou da falta dela. Se dificuldades lhe fazem infeliz, então você nunca será feliz. Isso não é auto-ajuda. É só uma forma um pouco mais otimista de encarar as coisas.”

“Diga-me que esta tudo bem, e acreditarei. Sempre fui bobo assim.

Diga-me que o mundo esta desabando e que vamos todos morrer. Acreditarei.”

“’... Quando não estás aqui, sinto falta de mim mesmo, e sinto falta do meu corpo junto ao teu... ’Incrível como ela conseguia tratar-lhe daquele jeito e ainda fazer com que sua paixão aumentasse mais e mais.”