‘’Vamos lá, só mais um sorriso pro papai!’’
Ele gritava descontrolado, com a filmadora pendurada entre os nós dos dedos.
O filho desmontava e montava de novo a arte de correr descalço na lama, e agora ria como se tivesse acabado de descobrir que as nuvens realmente são de algodão.
Chega a ser engraçada a dobra que fazemos entre o dia em que fomos crianças sorridentes ou emburradas que se usavam sapatinhos brancos com camisa pra dentro da calça e que gostavam de pedir sorvete, sempre que possível. É como se tivéssemos perdido tempo demais coçando os olhos, e agora, além de eles terem ficado vermelhos, você simplesmente descobre que não é mais criança, e tem que correr feito um louco, tentando registrar os primeiros passos da nova coisa mais importante da sua vida. Simplesmente uma bolinha macia e sorridente, que você sente no âmago que é essa sua missão a partir de agora: protegê-la de tudo, com a própria vida. Daí ela cresce, aprende a falar. ’’Eu te amo!’’. Você sorri e os olhos ficam marejados; daí você lembra que antigamente eles ficavam assim quando você tirava notas baixas e não podia jogar vídeo-game. E descobre que isso é mais empolgante do que o primeiro salário, mais importante do que o primeiro carro, mais feliz do que o primeiro beijo. Daí você fica todo bobo, faz sons incompreensíveis com a boca, e a bolinha macia te olha com aquela cara de ‘mas o que você pensa que está fazendo?!’. Daí ela ri. E você ri também, porque acabou de descobrir que sorrisos sem dentes são muitíssimo valiosos. Têm uma sinceridade que você não nota nos novos sorrisos que aprendeu a identificar.
Depois a bolinha macia deixa de ser simplesmente uma bolinha macia, e torna-se o essencial da sua manhã. Sai correndo com uns brinquedos novos nos bolsos. Daí você vê um rabo. De um lado o cachorro. Do outro, lá está a ex-bolinha puxando.
Seja lá o que for que acontece nesse meio tempo em que você pára pra coçar os olhos, é realmente algo muito diferente e muito mágico, porque simplesmente faz você abri-los de novo justamente na melhor hora do filme. No momento em que as coisas mais importantes acontecem. Na horinha em que tudo vale a pena e dá até vontade de assistir de novo.
Ouça Stop And Stare enquanto lê. Uma boa escolha. Uma boa inspiração.
Ouça Stop And Stare enquanto lê. Uma boa escolha. Uma boa inspiração.
nossa... dá até vontade de ter uma dessas "bolinhas macias e sorridentes" pra amar,rs.. gostei demaais desse.
ResponderExcluir