Quando abriu os olhos, já não
sabia onde estava. Não encontrou nada além de alguns espelhos quebrados,
destruídos pelo tempo, ou por algum vento muito forte. Estava despido. Olhou ao
redor, e lá estavam todos os restos do que devia ter sido algo excepcional.
Sentiu o ardor nas mãos tarde demais para perceber que o vidro quebrado as
estava perfurando. Levantou-se devagar, olhou ao redor. Não viu mais nada. Um
grande clarão, e lá estava ele envolto em lembranças, em vislumbres, e em todas
aquelas coisas que o cérebro projeta instantes antes de dormirmos de vez.
Sentia o corpo pesado, como se sua textura não fosse mais de carne e osso e
plástico, como os outros corpos que se encontram por aí. Percebeu então que
estava desmaiando. Estava saindo de seu próprio mal estar, estava sendo cuspido
de sua própria incompreensão das coisas. Estava tendo a oportunidade de
finalmente entender a razão daquilo tudo, e a resposta estava sendo escancarada
por uma espécie de porta. Mas estava ofuscado demais. Tentou chegar mais perto,
olhar melhor.
Acordou do devaneio antes da hora,
e nunca mais teve algo sequer próximo de descobrir o significado daquilo tudo.
Por que tantos cacos de vidro, por que tantos espelhos quebrados, por que
tantas lembranças que se misturavam com sonhos e alucinações? Nunca conseguiu
descobrir. Por vezes diversas, até pensou que a resposta podia estar ali mesmo,
escancarada, tão clara que ofuscava. Tão óbvia, tão simples. Mas concluiu que
nada poderia ser tão óbvio assim. Porque a verdade óbvia demais é exatamente a
que dói mais, a que perturba mais, a que magoa mais. E ele não queria que
aquela fosse a resposta.
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