quinta-feira

Como fogo


O sangue quente jorrava para fora como se daquilo dependesse sua existência. Lá estava ela.

Apenas alguns metros separavam a quase impossível felicidade da real dor. O coração esmagado soprava tudo o que ainda restava de existência para fora. Era assim. Fora do coração. Pregado na alma. As nesgas de um longínquo sorriso sumiam. Os dentes desapareciam. Os olhos pararam congelados, indiferentes ao tempo. E diferente do que se poderia imaginar, diferente do que era certo, o mundo continuava a girar. As pessoas ainda sorriam. E imaginava parado ali, como podiam. A maior dor do mundo parecia não atingí-los de forma alguma.
Os dois permaneciam grudados num movimento de quem ama, e ele sentiu suas entranhas gelarem no abismo de quem desce a mais alta montanha em queda-livre, pronto para ser esmagado contra a gravidade e contra o chão frio que sequer notaria a sua presença.

E a condição de existência que ainda mantinha o cérebro funcionando e o coração batendo era talvez a mesma que esmagava todas as partículas de um mesmo corpo contra uma mesa fria. Os corpos grudados causavam a dor de uma morte demorada, e da pior maneira possível. Como fogo. De dentro pra fora.

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