domingo

O ato de perdoar



Por três vezes se aproximou, mirou o outro indivíduo bem no fundo dos olhos e disse, como se nada no mundo fosse mais elegante ou agradável de ouvir:
__Desculpe.

É claro. Afinal, as pedras todas já haviam sido jogadas contra a cruz, e o corpo do outro jazia ali, quebrado pela queda. Um risinho maldoso e nada sincero perpassou por sua boca. O que pensar de um delator, de um traidor? Qual pensamento seria correto sobre uma pessoa que infringe o bem maior de qualquer indivíduo: a dignidade. O pedido de desculpas nada mais é do que uma forma de sentir-se livre e limpo consigo. Desculpas são palavras sujas. Arrependimento. Mesmo sincero. O Cristo morreu, e Judas? O arrependido cortou de si qualquer chance de perdão ou de absolvição. Pendeu o pescoço entre o corpo pesado e a cabeça, e puxou a corda. Um minuto e uns tantos segundos a mais. É só. Culpa e arrependimento.

   Desculpas sempre serão dadas, é uma maquinaria da sociedade. Não há mais a necessidade de arrependimento sincero para que se peça perdão, e não há mais a isenção da culpa para que se responda ‘ perdoo’. Religiões e inquisições estão espalhadas pelo mundo, denotando e conotando a necessidade de perdoar o próximo, quando a hipocrisia não os deixa perdoar qualquer ato de semelhantes. Então, use o perdão, mas não como obrigação. Como sentimento e pensamento sincero de quem quer perdoar.

   As guerras não seriam guerras, e a palavra seria erradicada, se resolvêssemos por em pauta o que realmente importa: o bem estar do próximo. ”E quanto a mim?”. Bom, se todos mantivessem o compromisso de preocupação com o irmão, tenha a certeza absoluta de que em algum lugar, não importa onde, alguém estaria preocupado com você.

   E passe bem. E perdoe. E seja perdoado. E não cobre do mundo muito mais do que isso, afinal, só terá direito de cobrar algo de alguém quem sempre fizer e olhar por um terceiro.

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