sexta-feira

Don't Panic



Acordou mais cedo e sentiu alguns respingos da chuva da noite passando pela janela e acertando sua face. Escorou-se nas mãos. Sentiu os pés tocarem o chão frio. Olhou para o espelho. ’Que reflexo horrível’, pensou. Levantou-se. Ainda estava de jeans e meia. Dormira do jeito que chegara. O corpo fragilizado pela falta de músculos aparecia no espelho. Estava com fome. Mas isso era normal. Toda manhã sentia-se faminto. Até que realidades do dia que viria faziam-no sentir-se sem fome e ainda mais frágil do que o normal. Vira alguém chorar no dia anterior. Não se interessara em saber qual era o problema. Se problemas alheios fossem tão importantes assim, haveria um jornal matinal particular de todas as pessoas do mundo.
“Bom dia!
“São sete horas da manhã e o sol promete não aparecer, então estou me preparando para mais um dia nublado.”
“Noite passada fui dormir as onze e trinta e dois, tendo alguns devaneios estranhos com minha secretária. Admito que o decote esteja ótimo para visualizações ultimamente. Acordei com uma tremenda dor de cabeça, e do lado de uma mulher que eu não conheço. O que mais impressiona é que acordo ao lado dessa estranha todos os dias a quinze anos. encerro agora meu plantão matinal. Ao meio-dia retornamos direto do meu trabalho para mais um relatório impressionante sobre o meu dia!”

Definitivamente não carecia. Enxergou a marca dos nós dos próprios dedos magros sobre o peito. Dormira sobre a própria mão.
“Está tudo bem?”. Ele olhou para o chão, e sem convicção alguma respondeu que estava. Por que não estaria?
Tomou um banho e um café rápidos. A água estava extremamente fria. O café também. A camisa fedia a suor. Pegou outra mais limpa, que tinha um cheiro familiar que ele estava acostumado a sentir ultimamente, apesar de não ser seu. Sentia-se esmagado contra o chão, e nada faria. Não fizera no dia anterior. Não faria agora.

Gostar: ter amizade, amor ou simpatia a algo ou alguém;

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