Declare-me acima de qualquer suspeita e abaixo de nada mais do que um mundo inteiro de culpa. Faça-me crer que de todas as coisas do mundo eu sou a mais infinitamente descartável, a ponto de rir do absurdo, só porque nem o maior dos absurdos seria absolutamente tão resoluto quanto eu já fui um dia. Faça-me sentir arrepios sem frio, sem medo, sem dor. Faça-me rir sem graça. E faça-me chorar sem lágrimas, porque só o que consigo mesmo é isso: é chorar em silencio enquanto não escorre uma nesga de tristeza. E tudo porque não é tristeza. É quase que desesperança mesmo. Levante minhas mãos, e olhe entre meus dedos, e descubra porque mãos no ar valem muito mais do que aquelas que se escondem em bolsos. Crie bolsas de ar a partir da pulsação de uma brisa, e brise como eu seria capaz de brisar, por nada mais além de qualquer trocado inteiro. Nada além do que já estou acostumado a não ver. Sabe aquelas coisas que você já se acostumou a não ver?
Eu não me acostumo com nenhuma delas. Acostumaria-me a brisar na neve. Acho que foi isso mesmo que aconteceu. Acostumei-me a brisar na neve, e me acostumei a não ter nada além de terra seca entre as unhas, e não ter nada além de vida seca entre as mãos. Nunca me ouça. Só ouça isso. E ouça soluços de alguém distante. Saiba que não sou eu. E saiba que eu não seria capaz de soluçar, justamente porque não sei fazer isso. E me declare acima de qualquer suspeita e abaixo do que nada mais além de mim mesmo. Eu aprendi que nenhuma história se repete. Eu aprendi que são todas iguais. E aprendi que nunca vou aprender a fazer isso. E aprendi que vou ter que me acostumar a viver entre as pessoas que já aprenderam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário