sexta-feira

Dia de homem



Caminharam pela cidade conversando sobre variados assuntos. O clima não fazia parte de nenhum dos dois, principalmente se você os conhecesse como eu. Ele falava qualquer coisa sobre a família e sobre como seria a incrível viagem para visitar alguns parentes.Haviam acabado de discutir.Ele falou mais do que devia quando ela disse que não queria ir a casa de seus pais.

__mas por quê?!

__porque eu não quero, ora.

Era um casal quase perfeito. Quase. Brigavam mais do que a história poderia aguentar.Agora brigavam e deixavam uma amargura pontilhada em cada frase depois de uma briga.E tornar-se-iam cada vez mais e mais rancorosos e grosseiros um com o outro.Já nem conversavam direito.O tempo compartilhado junto,que antes era cheio de sol e flores,como o verão e a primavera,tornava-se agora frio,como um inverno que custa a passar.Daqueles que duram meses a fio,e que você torce pra que pare.Mas não para.E o pior é que amavam-se mais do que qualquer um dos dois poderia aceitar.E a ligação tarde da noite,que antes era recheada com o diálogo dos risos e juras de amor sem fim,terminavam agora com um amargo "tchau" ou com o encerramento da linha no meio de uma frase.

Era próximo do dia dos namorados, e ele já havia dado a promessa de que não lhe daria nada. Quando chegou à casa que dividia com a mãe, ela conseguiu ainda derramar algumas lágrimas. Seu coração já não aguentava mais.Tinha que parar.E gritava do fundo do peito,com uma dor interminável;"faça parar!".Andavam pela rua enlameada(havia chovido a tarde inteira) e ela já havia desistido de tentar manter uma conversa plausível e sem discussões.
Ele parou de repente e perguntou o que havia. Ela disse que nada. Os dois tinham novidades. Sabiam disso.Ele queria falar da viagem.Havia terminado com o silêncio mórbido que ela fazia.Perguntou qual era a novidade que ela tinha.

Nunca vi um homem chorar tanto. Ela segurou-o em seu colo e teve a sensação de que tudo ali estava errado. Era ele quem estava chorando.Era ele quem estava dando sinais de fraqueza.Era ele.Ela disse que estava,depois de dois anos,desistindo dos dois.Deveriam terminar.Do pior jeito que se imagina.Brigando.
Naquela noite ele encostou a cabeça no travesseiro, ouviu algumas músicas tristes. Chorou mais um pouco. Não tinha vergonha de chorar.Era homem.E de tão homem que era não percebia que,com tanta ignorância e um esquecimento do amor que tinham,estava escrevendo junto com ela um final triste da história romântica que pertencia ao casal.Não terminaram.Resolveram mais uma vez tentar.Porque o problema não eram as brigas.Sempre brigavam.Nem os términos.Sempre terminavam.O problema era que agora ele sentia a gravidade da dor da perda.


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