terça-feira

Poesia, Então!


Mas que história é essa de poesia?

Dizia a mãe

E estendia a mão

E ele entendia

Que no mundo do quadrado

O triângulo é atrasado

E fazia de tudo

Tudo mesmo o que queria

Só que tinha problema

Sempre que falava em poesia



E o pior é que não sabia

Escrevia mal

Tal de pato Nicolau
Que corria atrás do pardal

Relacionamento homossexual?

Em tamanho mundo animal?

Que absurdo

E nada de poesia!

Isso é que era porcaria

Gritava a mãe sempre que podia

Quem já se viu

‘Uma galinha margarida

Que psicografava a vida’

Lia o pai na mesa do jantar

E todo mundo ria

E o garoto sempre corria

E se trancava no quarto

Com um nó na garganta

‘Vergonhinha, é?’

Ria a irmã mais velha

‘Então não escreva porcaria

Porque no mundo dos sabidos

Burro não tem cortesia!’

 E nada de poesia!

E ria mais e mais alto

E soltava uma exclamação

Sobre a ignorância do irmão

Porque poesia

Não é,

Nem foi,

Nem seria,

Coisa que gente trabalhadora gostaria!

Porque o que move o país

Não é escrever

É fazer

É plantar

É colher

Fazer poesia?

Ah, vá procurar o que fazer!

Porque o que é moda

Não é a poesia escrita pelo pobre

Mas a poesia lida pelo nobre

Porque esse, sim

Que mora na cidade

Esse, sim

Sabe que não pode se misturar com a escória da sociedade

Sabe que gente de verdade

Mora em casarão

Em mansão

E a turma do fundão

Que mora em barracão

Ah, esses manda pra prisão, não é?

Porque rico de verdade

Sabe o que pobre quer

Quer é o dinheiro suado

O ouro conquistado

Pelo empresário desgarrado

Agarrado na saída do trabalho

Pelo mendigo maltrapilho

Vagabundo de carteirinha

Já sabe, então

Poesia não!

Um comentário: