Corria desesperadamente, uma dor apertando seu peito, fazendo com que tivesse dificuldade de respirar. Ainda vestia a roupa do circo, e ainda podia ouvir gritos distantes, que lhe informavam que nada o faria ficar tão longe que não pudesse ouvir aquilo tudo. Já havia arrancado os sapatos desde a hora que saíra, e agora sentia os pés em carne viva, e cheios de poeira. Arfava e tossia com as mãos escoradas sobre os joelhos, num meio movimento de quem esta prestes a cair de cansaço. Os pingos de suor escorriam num reflexo de cores, daquelas que só pessoas de circo usam. Daquelas que te deixam mais imponente. Daquelas que te congelam triste ou feliz. Numa expressão que, de tão irreal, torna-se sincera. As mãos estavam molhadas, de suor e sangue, ele achava. O líquido quente escorria pelos braços, e se esgueirava até a ponta dos dedos, e pulava como um mortal kamikaze. Sem medo algum. Caíam e evaporavam em pouco tempo. Parecia ser este o sentido de suas vidas de gota: escorrer por onde desse, se prender a coisas que lhe fossem de importância, ou pularem dos lugares mais absurdos, para um futuro que, todas elas sabiam, as levaria para uma triste e solitária evaporação. Para um triste fim. Mesmo assim pulavam. E pulavam sem medo da dor. Pulavam sem medo do fim. E gritavam como numa queda de montanha russa até se espatifarem no chão quente e não durarem mais do que alguns segundos, fervendo e evaporando. Mesmo assim pareciam não se arrepender, e o olhavam com a simples concordância de que se pudessem, sim, fariam tudo de novo. E não parariam até ter uma perspectiva melhor de existir. Pular, cair, sorrir, evaporar.
quinta-feira
quarta-feira
Trecho de algum rótulo de gente
''Satisfez-se com apenas dois ou três sorrisos irônicos que diziam nada mais do que somente o que ele queria saber. Estavam todos parados ali, olhando. Em sorrisos irônicos. Constariam, tempos depois, que ironizar nada mais é do que expor uma depressão contida, escondida e contínua, como água corrente em rios subterrâneos. E todos os sorrisos irônicos eram só uma comprovação em voz estridente de uma menina irritante. E apesar de tudo isso, nenhum deles sequer notava que eram eles quem estavam com as calças nas mãos. Eles é que estavam nus e desinibidos, e estavam assim completamente alheios a uma visão simplista do mundo. E mostravam sem querer ali tantas frustrações quanto se é possível mostrar. Tantos sorrisos de depressão que dilata os vasos quanto é possível. Tanta amargura quanto é possível aprender a ter. Tanto hipocrisia quanto é aconselhável beber.''
segunda-feira
Surtir
Parei bem no meio do quarteirão. Olhei pro chão. Acho que faço isso sempre que olhar pra qualquer outro lugar se torna difícil. Já começavam a cair umas gotinhas rebeldes de uma chuva que viria muito tempo depois. Eu ri. Não que seja bom ter um compromisso a cumprir e chegar totalmente encharcado, cheirando a tapete molhado... Mas acho que me acostumei com esse tipo de coisa, e simplesmente aprendi a rir toda vez que chove e eu estou parado no meio de uma rua qualquer, totalmente perdido. Tolamente perdido.
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