Parei bem no meio do quarteirão. Olhei pro chão. Acho que faço isso sempre que olhar pra qualquer outro lugar se torna difícil. Já começavam a cair umas gotinhas rebeldes de uma chuva que viria muito tempo depois. Eu ri. Não que seja bom ter um compromisso a cumprir e chegar totalmente encharcado, cheirando a tapete molhado... Mas acho que me acostumei com esse tipo de coisa, e simplesmente aprendi a rir toda vez que chove e eu estou parado no meio de uma rua qualquer, totalmente perdido. Tolamente perdido.
Vivo me perdendo. Vivo não sabendo onde estou. Ando em círculos. Chuto algumas pedras. E tenho até medo de ser seqüestrado por neonazistas e acabar indo parar num campo de concentração com trabalhos forçados para meninos magricelas de baixa estatura. Sei lá.
Passou uma senhora olhando. Eu enxergava uma mulher de meia idade com umas coisinhas muito estranhas na cabeça. Ela enxergava um marginal magricela e prestes a se molhar. Tinha um homenzinho miúdo tocando violão ali perto. Fiquei olhando, fingindo ouvir o que ele tocava. Estava tentando lembrar pra onde deveria dobrar agora.
Lembrei de todas as vezes que ela me olhou e sorriu. E de todas as vezes que andamos em silêncio por lugares dos quais não tenho sequer uma lembrança. Uma sequer. E lembrei-me de quando pegamos chuva. Não foi uma vez só.E lembrei de todas as vezes que paramos pra avaliar o céu.Era sempre muito azul.
E fiquei por ali mesmo, surtindo uma melodia barata e sucumbindo sob o peso das gotas do tamanho de balas de canhão. E surti de verdade.
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