domingo

Dor

Chorou como se o mundo fosse acabar naquele momento.

__você volta?

__volto.__ele respondeu. Não voltaria. E ela sentia vontade de chorar, e de correr gritando o quanto estava triste. Ela sofria, e o mundo não queria parar. Continuava doendo, como uma brecha que se abre no meio da sua caixa torácica, entre as veias visíveis e o cérebro. Chorou. Doía muito. Ele não voltaria. Ela sabia disso. E se irritava por saber. Gostaria de poder manter as esperança de ver aquele sorriso desconexo uma vez mais. Não veria. Queria poder fazer cócegas ate ele perder o ar. Não faria. Chorou. Tinha o direito de chorar. Não queria. Lembrou-se dele sorrindo no natal, quando ela tropeçara e derrubara a garrafa de vinho. Cheiro de álcool. Ele sorria. Não sorriria mais. E ela ali. Não saberia viver sem vê-lo. Sem tê-lo. Não resistiria. Morreria. Ou até pior: não morreria. Sofreria até a ultima grama do que é possível sofrer. Secaria todas as lágrimas do mundo. E tomaria todas para si. Ele tinha que voltar. Mas não ia. Por quê?Fácil. É sempre assim. Amamos. Não sabemos amar. Maltratamos. Isso nós sabemos bem. E quando o amor resolve ir embora, nos arrependemos, e queremos que o mundo acabe porque vamos chorar todas as lágrimas que existirem entre nós e o fim do universo. Não merecemos. Talvez até sim. Mas não desse jeito. Dor fria. Dor. Ele daria seus últimos suspiros dali a pouco numa sala imunda de hospital. Dor. Morreria olhando para o teto. Dor. Morreria com a metade do peso que deveria ter. Dor.







Ela foi para o banheiro e chorou. Até secar.

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