Ela fazia de tudo, e corria sempre que sentia que algo de diferente estava rolando entre ela e outro alguém. Não que não gostasse de namorar, não, ela até tinha os seus casos. Mas quando sentia que estava ultrapassando os limites do “ficar”, ela logo se apressava em se afastar. Inventava uma briga qualquer, um defeito qualquer, e dava um jeito de negar-se a aceitar o amor. Deixou vários rapazes tristes, desolados, parece que um pegou até depressão, e ela ainda dizia que não estava nem aí. Ela simplesmente se recusava a aceitar um sentimento que lhe levaria a loucura assim.
Sim, porque amar é só para os loucos, não aqueles de frequentar hospício.Talvez até seja. Porque quem ama esquece o passado, vive o presente e sonha a vida no futuro, e sonha em mudar, em crescer, em ter filhos, mas sempre unindo tudo isso pelo sentimento dos ricos de loucura, os que amam. E ela não queria isso. Estava muito bem, obrigada. Não precisava de algo assim. E simplesmente tinha pavor do amor.
Até que o conheceu num dia de sol, quando ia sonolenta no ônibus para o colégio. Ele carregava uma pilha de livros, panfletos, ou seja lá o que for,ela nem reparou.Olhou abobada enquanto ele lutava contra o vento,que lhe açoitava todos os papéis.Ele nem era assim tão bonito,nem era assim tão alto,nem tão forte.Mas ela não conseguia parar de olhar.Ele desceu,e ela,nem sabia porque,desceu também.Sentia vontade de segui-lo eternamente,até o fim do mundo ,até onde nada poderia vê-los.
Parou numa sorveteria, e ela também. Ela então notou que ele encarava-a. Não que não estivesse olhando fixamente para o lugar onde ele estava, mas olhava tão concentrada, tão absorta, que nem reparou que ele também virou para admirá-la.
Ele então perguntou seu nome. Ela gaguejou mais do que pretendia. Sentiu raiva de si mesma por isso. Eles conversaram a manhã inteira. Conversaram sobre a cidade, sobre bandas de rock, sobre o aquecimento global, sobre a crise econômica mundial, sobre os times de futebol do estado, sobre a liga de basquete, conversaram sobre flores, e sobre como elas parecem uma criança de pele macia e toda molhada logo cedo, quando o orvalho cai. Conversaram sobre tudo. Conversaram sobre discos voadores. E conversaram sobre sonhos, e sobre como seus filhos se chamariam, e sobre como seriam inteligentes e teriam bom gosto musical, e conversaram sobre como os sonhos de hoje são corrompidos e sobre como tudo antigamente era mais fácil.Ela sentiu-se extremamente quente e viu que não sairia ilesa do que poderia ser a historia de sua vida.
Ela então o amou como nunca tinha se dado ao trabalho de amar alguém. Não que ele fosse muito bonito, ou forte, ou até mesmo alto. Mas era inteligente. E era leal, e sincero.
E era seu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário