“Espero vê-lo logo!”.
É um bom jeito de terminar uma carta para papai. Todos dizem que ele já vai voltar para casa. Eu não sei. Desde que ele foi embora, no final do ano passado, todos me prometem isso, no entanto, é cada vez mais raro que mamãe deixe que eu vá visitá-lo. Nem sei por quê. É só uma gripe. Gripe. Nem é uma doença tão perigosa assim. Eu sei que não posso correr, porque sinto falta de ar, mas isso não é gripe, é asma. E gripe é mais fraca que a doença que eu tenho. Papai não consegue respirar direito. Ele riu de mim quando levei meu aparelho que ajuda quando sinto falta de ar. Ele disse que não ia resolver o problema dele, mas eu acho que resolve, sim. Ajuda quando eu me sinto mal.
Semana passada eu fugi da escola e fui vê-lo. Ele estava mais pálido e mais magro do que da ultima vez que o tinha visto. Ele riu quando soube o que eu tinha feito, mas disse que um garoto de sete anos não deveria matar aula. Eu disse que fiz isso porque sentia saudades. Pude ver lágrimas escorrendo por seu rosto e desaparecendo atrás da barba, que está mais comprida do que de costume. Não sei o que foi que eu disse. Não acho que uma fuga da escola seja motivos para choro. Acho que ele estava brincando, ou fingindo, para que eu me arrependesse. Não sei. Papai não brinca mais comigo desde que foi para aquele maldito hospital, tratar da tosse. Mamãe disse que é gripe, mas não quer que ele venha para casa, nem fique perto de ninguém da família. Lembro que antes de ir para o hospital, ele tossiu muito, e saiu sangue. Mamãe chorou, mas eu ainda não entendo porquê. Eu caí de bicicleta semana passada,e nem chorei. Não choro mais, já sou velho demais para isso. Hoje todos os parentes de papai vieram nos visitar. Estão aqui em casa. Só que ninguém quis brincar de nada. Estavam muito sérios. Até o tio Louis estava sério. Acho que é o cansaço da viagem. Eu vi mamãe chorando no banheiro, e a vovó passou mal. Não sei o que aconteceu.
Sinto falta do papai.
Espero vê-lo logo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário